segunda-feira, 27 de julho de 2009

Coletividade, Cordialidade, Atividade!



Acabou a euforia do fim de semana. De volta para vidinha cotidiana. Dentre as atividades do dia, essa que realizo agora, escrevendo meu descarrego mental, é a que me dá mais prazer. Acompanhado do pedal. Bicicleta salva!
Pedalando eu consigo me desligar de algumas coisas e me ligar em outras. Deixo de lado minhas preocupações profissionais, minhas frustrações, meus medos e dou um pouco mais de amor a mim mesmo. O suor que molha a camiseta leva com ele o sentimento de estar na encruzilhada e deixa espaço para sentimentos e pensamentos mais puros e claros.
Na mesma via, porém, outros veículos transitam e dentro dos parques pessoas de todas as idades passeiam e se exercitam. Depois de uma sexta e um sábado de chuva, domingo foi um dia cinza, mas sem chuva. Carreguei o mp3, troquei de roupa, arrumei a bolsinha de ferramentas, água na garrafinha e fui pedalar. Um percurso que sempre faço é o inter-parques Ibirapuera / Villa Lobos. No Ibira dou uma ou duas voltas vou até o Villa, uma ou duas voltas lá e volto. Quase todo dia eu estou nesses parques.
Durante a semana atletas, algumas celebridades, idosos e pessoas como eu, que se exercitam. Tudo funciona: Quem corre fica fora da ciclovia, quem pedala não sai dela. No Ibira estão repintando as faixas da ciclovia, o que é muito bom, pois já faz tempo que estão bem foscas. No Villa Lobos existe uma pista separada para as bicicletas, skates e patins. Tudo muito bom até chegar o fim de semana.
Como uma praia, os parques são um dos principais locais de lazer do paulistano. Depois do shopping, claro! Não no meu caso, só vou ao shopping para ir à livraria e eventuais presentes. Como tudo em São Paulo os números são astronômicos, a quantidade de gente que prefere os parques para se divertir é tão grande quanto. E ai, quando as marcas no chão, a pista exclusiva, as placas, os seguranças e funcionários realmente deveriam funcionar, o parque vira um mini caos. Qualquer dia vou arrumar uma câmera dessas de capacete para vocês terem mais noção do perigo.
Muitos andam na ciclovia como se estivessem no passeio publico. Outras mães descuidadas passeiam com crianças que mal andam direito no meio da ciclovia. Temos que escolher quem a gente atropela: a mãe ou a criança! Eu aviso. Diminuo a pedalada, começo a falar um pouco antes de chegar e passo falando: “Senhora! Olha a ciclovia, é perigoso!” Quando olho para trás, geralmente, a pessoa me agradece e já esta fora do caminho dos mais velozes. Isso se repete inúmeras vezes nos fins de semana no Ibirapuera, pois a pista de caminhada é a mesma da ciclovia. Inevitavelmente alguém precisa cruzar a ciclovia. Logo, já sei que dentro do Ibira o lance é diminuir a marcha e colocar um som mais relex no mp3. E tentar educar o povo com avisos, alertas e conversas. Talvez com a nova pintura o respeito aumente.
Já no Villa Lobos, a primeiro impacto do fim de semana é quando você, depois de passar a semana entrando pelo mesmo portão, é barrado por um segurança dizendo que bicicleta só pelo portão do lado. No primeiro dia perguntei por que e ele me respondeu que aos fins de semana, devido à quantidade de pessoas, bicicleta só na ciclovia. “Ok! Super legal”- pensei. Até começar a pedalar por ela. Gente correndo, andando um do lado do outro formando uma parede humana, parando no meio da pista pra uma foto. Ontem não foi diferente.
Alguns instantes de tempo semi bom e o parque estava cheio. Por algum motivo inexplicável, a ciclovia estava lotada de gente sem bicicleta ou rodinhas nos pés. E lá, não dá para educar, pois é uma pista exclusiva. Para a pessoa voltar ao caminho certo, tem que atravessar um gramado para outra pista, exclusiva para elas. Já acostumado com a situação, mas um tanto indignado, parei para conversar com um guarda:
_”Oi, olha... não é reclamação, não é querer dizer nada de mas...” – cheio de tato pois é um homem fardado – “... nós que estamos de bicicleta somo impedidos de circular pelo parque fora da ciclovia. E olha só” – apontando para um grupo de corredores – “Eles não são impedidos de andar na ciclovia e é perigoso.”
O segurança fez cara de “pois é”, coçou a cabeça e respondeu:
-“A gente orienta a pessoa também, fala que é perigoso, mas ela responde dizendo que é só mais uma volta. Ou quando a gente fala que é perigoso andar com criança pequena, que pode ser atropelada por uma bicicleta, ela responde dizendo que se responsabiliza. O que eu posso fazer? Não posso pegar no braço e colocar ali “– apontando para a pista certa.
_ “Beleza” – respondi – “Fazer o que, né?” – e saí pedalando.

A primeira coisa que pensei foi na impunidade. O cara que entra num parque para correr sente-se no direito de correr por onde queira e, por mais que existam placas, marcações, e guardinhas orientando, o pensamento é um só: O que eles podem me fazer? Prender? Por correr no lugar errado no parque? Há-há-há! Não dá nada!
Depois tem a desobediência brasileira. Deve ser genético. Todo mundo sabe que é proibido um monte de coisas, mas que todos fazem vista grossa para um monte delas também é sabido! Em São Paulo, não saiu no diário oficial, nem deu no jornal nacional, mas todo mundo sabe que o sinal amarelo serve para acelerar mais ainda. Ou que o amarelo do outro lado é o sinal pra você engatar a primeira. Combinação perigosa essa! Todo mundo sabe da lei seca, mas já não se têm medo ser parado numa blitz e dormir na cadeia. Se for pra se dar bem então, aí é que a gente não respeita a lei mesmo.
Você se dá conta que esta num corredor onde tem uma porta “entrada proibida”, mas a porta esta aberta. Uma espiadela pelo vão e é a área VIP da festa. Bebida e comida à vontade + gente bonita + sem segurança para te barrar. No mínimo uma entradinha nós damos. Mas esse não foi um bom exemplo, apesar de ter a mesma essência, não cabe aqui o senso de coletividade, a terceira coisa que pensei.
Pensar no coletivo hoje é démodé. Pensar no nosso sucesso pessoal é primordial. Mesmo que nos dê um prazer limitado, que não tenhamos tudo que deveríamos ter, mas o que temos, nos deixa feliz. Agora sim um exemplo bom: Super Nanny.
Para quem assistiu uma vez sabe como funciona. Uma família completamente desestruturada é posta em ordem pelas mãos da Nanny. Onde a principal tarefa da família é seguir o que ela chama de “Rotina”. O que na verdade, são regras.
As crianças relutam durante um tempo para aceitá-las, mas logo todos percebem que não só sua vidinha ficou boa, mas melhorou o convívio familiar e sua vida completa-se. Não basta que tenhamos nossos prazeres exclusivos atingidos se outros fatores não são. Por não pensarmos no coletivo tentamos nos ater a pequenas coisas que nos satisfazem momentaneamente.
O Homem acelera com seu possante pra ficar feliz que tem o carro mais forte, mas tanto ele quanto o fusquinha param logo adiante no transito e ali ficam.
Se todos seguissem as regras, o transito todo fluiria melhor. Como na “rotina” da Super Nanny. Se todos seguissem o que foi estudado e aplicado em forma de regra, eu não atropelaria uma criança por fim de semana no parque! Regras não são imposições, não se trata de ditadura.
Não sou religioso, mas se todos nós realmente amássemos uns aos outros com a si próprios o mundo seria muito melhor. Isso se aplica a política, a nossos governantes. Que não pensam numa nação, num coletivo. Pensam sim na sua conta bancaria. Aplica-se no nosso “jeitinho brasileiro”, na nossa educação. No que queremos para um futuro melhor.
Por aqui, sigo pedalando e com meus afazeres diários. Sorrindo e desejando bom dia, boa semana para todos. Cordialidade é um começo!

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