terça-feira, 18 de agosto de 2009

Vicky Cristana Barcelona.

Assisti um dos últimos filmes do Wood Allen, Vicky Cristana Barcelona, e resolvi postar aqui minhas considerações. De antemão digo que o filme é ótimo e diz muita coisa do que eu acredito e sinto sobre relacionamentos e amor.
É muito interessante como conversando com algumas amigas, cada uma se identifica com uma personagem e eu, fico num mix de Juan Antonio (Javier Bardem) e Cristina (Scarlett Johansson)! Claro que infinitamente sou menos bonito e famoso! Mas isso não vem ao caso.
Um dos principais questionamentos que o filme causou em mim, foi em relação aos dogmas do amor que não me convencem e que me parecem irreais e pequenos perto da grandeza da palavra amor. Incertezas em jogar-se numa relação que não se baseie nos moldes conhecidos são as principais causas de sofrimento. Eu sofri em quebrar esses dogmas e hoje é difícil alguém aceitar ou entender meus novos conceitos.
Parte dessa dificuldade é o maior valor imposto hoje que é a fidelidade, o que gera um choque entre razão e sentimento.

Crescemos assistindo de perto diversos relacionamentos que nos parecem perfeitos. Sejam com pais, tios ou avós que vivem juntos anos e anos ou novelas e filmes da sessão da tarde! Quando crianças nossa interpretação é muito superficial e quando acontece uma separação quase sempre é chocante. Se tratando de pais, o trauma pode ser irreversível. Aí vem a puberdade e logo vivemos aquele primeiro amor que nunca esqueceremos. Como se tudo que observamos quando criança fosse posto em prática e a paixão avassaladora acontece e nos destrói quando terminada. É uma das primeiras lições da vida que bate de frente com o que nosso cérebro registrou. Cada um de nós teve um motivo diferente para o fim desse primeiro relacionamento, mas em todos os casos eles não se pareciam nem um pouco com que tínhamos em mente. Esse sentimento é o dogma do amor. Como se existisse uma fórmula ou receita, tentamos nos relacionar conforme pensamos e não como sentimos. Logo, os relacionamentos tornam-se irreais se interpretarmos que relacionamento, seja a sincera abertura do nosso eu intimo para outras pessoas (independente do sexo do parceiro).
Uma das frases que ficou marcada depois de ver o filme foi quando Juan explica porque seu pai está brigado com a humanidade: “O homem não teve a capacidade de aprender amar”. ( ou coisa assim)
Quando buscamos mais uma vez um relacionamento, buscamos lá trás no passado o que sabemos sobre o assunto. Dessa vez, cuidando para não cometer os mesmos erros e tropeços de antes. Se por ventura, mais uma vez, esses erros acontecem por não se encaixarem com a realidade, sofremos. E muito. Ao mesmo tempo em que queremos nos atirar num relacionamento concreto e único, ficamos receosos com as incertezas dos sentimentos. Muitos questionamentos são projetados para a outra pessoa. Pensamos nos “serás” e nos “ses”. Será que ele(a) me ama? Se eu ficar mais uma vez com ele(a) vai virar amor? Será que ele(a) pensa em mim como penso nele(a)? Será que é isso mesmo que quero? E mais um monte de perguntas que não são controladas muito menos desejadas por nós. Simplesmente aparecem. Nossa cabeça tenta desesperadamente apagar as mensagens que o coração tenta nos dizer. E qual é mensagem? “Isso é amor”, ele diz. Amor? Isso não seria paixão? Nos não “ficamos” somente? – a cabeça questiona. E aí, sofremos.
Sofri como a Cristina ao deixar seu namorado transar com a ex-mulher. E senti o mesmo orgulho ao quebrar esse dogma. Namorei e amei uma menina que tinha namorado. Ela me disse que o amava e sentia que ela me amava também assim como eu. Minha cabeça travou na época e depois percebi que amor é muito maior que meu sentimento de posse. Para grande maioria, ou eu ou o namorado dela, eram cornos! Corno manso ainda! Mais um dogma, mais uma fórmula ou receita. A diferença é que não vivíamos juntos na mesma casa. Mas o sentimento de carinho existia. Eu sabia que o “outro” a deixava feliz e cuidava bem dela, e isso me deixava feliz. Mesmo sentimento que tenho por varias outras meninas que não estão mais comigo, mas felizes com outros. E nem por isso quer dizer que nunca mais nos veremos e não vamos nunca mais nos beijar, transar, nos amar.
O problema é expressar esses meus sentimentos para o sexo oposto e esse achar que se trata de “galinhagem”, “putaria” e afins. Eu quebrei meus preconceitos e dogmas, mas isso causa tanto espanto que se torna um empecilho. Vejam, a mulher não depende mais do homem para nada. Pouco importa hoje quem paga a conta, o sexo do chefe no trabalho, não existe mais dependência financeira e cada vez mais a tal guerra dos sexos torna-se ridícula e incabível. A mulher é tão independente quanto o homem e na sociedade dogmática e moderna o maior valor que se “pede” é a fidelidade.
É a ambigüidade da sociedade moderna. Ao mesmo tempo em que estamos vivendo a liberdade sexual plena, ainda sonhamos com a velha forma de relacionamentos e preconceitos em relação às diversas formas de amar ainda permeiam nossas vidas.

Que conclusão chegar com tudo isso?
Nenhuma!
Deixemos de lado a cabeça preconceituosa e castradora. Vamos olhar mais para nossos sentimentos e se jogar naquele que move o planeta, o amor. Puro, sincero e descomplicado porque “Só um amor não realizado pode ser romântico”.

3 comentários:

  1. Não sei, acho q fidelidade é algo muito mais antigo do que a sociedade moderna. E de fato necessário por uma série de motivos sócio econômicos e psiquicos. Além de ser um conceito bem variável, tem gente que considera o contrário de traíção. Eu já acho que traição é falta de lealdade.
    Ei acho que a questão desse filme vai bem além do ser ou não fiel. Envolve laços de convivência, escolhas de uma vida e a instabilidade emocional q faz parte de tds nós.
    Sei lá. Devaneios...

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  2. adorei o texto... Não vi ainda o filme mas agora ficou uma vontade enorme de ver...
    Cheguei aqui atraves do 3x30... Abraço viu!

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  3. Oi André,

    Sintonia mesmo! Nossa, nós fizemos váaaaaaarios posts sobre Vicky, Cristina, Barcelona, dá uma fuçada lá depois. Foi bem na época do lançamento do filme.

    Concordo com vc: a gente precisa se jogar mesmo!!!!

    Beijos,

    Bela - A Divorciada

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