quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Lambuzado

Link interno urgente! Precisamos olhar para dentro, para nós mesmos e o mais rápido possível! Deixemos a felicidade conosco e não com o outro.
Enquanto uns tentam seguir a vida outros seguem a vida alheia. Será que sempre a grama do vizinho é mais bonita? Claro que não. O problema é que não levantamos a bunda do sofá, não afiamos o facão, o rastelo e a pá para cuidar do matagal que nos atrapalha a visão. O mato pode ser cortado e virar um lindo jardim. As ervas daninhas sempre voltam, mas as flores fortes resistem. Os frutos podem ser colhidos, mas cada um ao seu tempo.
Estamos pensando demais e sentindo de menos. Vi uma frase no MSN esses dias que a vida não deve ser comida de garfo e faca e sim devemos nos lambuzar! E é isso mesmo. Só se aprende andar de bicicleta caindo e mesmo assim é uma delicia. Depois do tombo dá medo, mas é aí que devemos ser fortes e dar as primeiras pedaladas de novo.
Bom seria se todos soubessem o que realmente sentem. Bom seria se todo coração palpitante fosse amor. Não o amor de novela das oito. Amor puro sem classificações. Bom seria se a simplicidade fosse religião, crença e prática! Sem ser fanatismo.
Porque hoje é tão difícil relacionar-se? Muita internet? Tudo muito virtual e imediato?
Tudo é link e saímos clicando em todos? Quem sabe?
O que falta realmente é paciência para conhecer os defeitos, as diferenças, os conflitos internos e do próximo. Quando a coisa fica muito densa logo clicamos em outro link. No fim nem se procurarmos no histórico iremos achar a pagina inicial de onde tudo começou.
Tudo começa com a gente. Nós somos os responsáveis pelo nosso caminho. Caminhamos com as próprias pernas e não com a do próximo.
É chegada a hora onde o solúvel não nos satisfaz. E para concretizar qualquer coisa é preciso olhar para nós mesmos, escutar o coração e lambuzarmo-nos!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O Desapego

Escutei recentemente de algumas amigas em estado de euforia após uma baladinha: “E viva o desapego!” – Viva! – a outra respondeu.
No contexto delas, toda essa alegria vem por conta de não estarem mais sofrendo com antigos relacionamentos. Esse foi o desapego delas.
Só ontem, pós- carnaval, outras 2 pessoas me falaram que encontraram um par ótimo no carnaval e que foi lindo e que agora estão se comunicando via MSN e tal, mas pra mim, depois do carnaval o desapego deveria ser uma pratica ainda mais constante.
Bom, com essas coisas na cabeça resolvi aprofundar-me no tema desapego.

Para alguns o desapego pode ser a total falta de atenção com alguém. Não ligamos se a pessoa telefona, se aparece, se responde se dá sinal de fumaça, sei lá, se a pessoa não está nem ai pra alguém ela esta desapegada. O apego é estar presente. Aproxima-se do pegar, do ter, do tocar. Apega-se a coisas e pessoas. Tenho um apego muito grande com minha bicicleta por exemplo. Se tivesse um gato ou cachorro teria apego por ele. Tenho apego a internet e esse velho PC. É diferente de amor. Diferente de paixão. Apegar-se é como se aquilo ou aquele(a) fosse parte de nós como o cobertor do Lino no Snoop, o coelhinho da Monica, o martelo do Thor.
Com pessoas, nos apegamos aos amigos principalmente. Nós escolhemos os amigos. Os mais queridos estao no MSN, no skype, no Orkut, no facebook, no celular... Queremos sempre por perto, procuramos sempre pra fazer as coisas mais legais.
O apego é fácil de ter e identificar. É fácil apegar-se.

O desapego, concentrando-me nos relacionamentos amorosos, talvez seja uma das coisas mais importantes de se cultivar. E mais difícil.
Aprendemos, como disse acima, que apegar-se é fácil. Pois bem, quando começamos um relacionamento a primeira coisa que acontece é apegarmo-nos. Sim, queremos a pessoa por perto, a queremos pra nós, queremos que fique aqui do lado. Porem não se trata do cobertor do Lino nem o martelo do Thor! E diferente de amigo onde mesmo distante ainda ficamos felizes de saber alguma novidade via email. Com nosso par perfeito queremos é estar grudados! Essa vontade louca um dia passa. Transforma-se em outra coisa.
As pessoas precisam de espaço. Precisam de distanciamento para respirar e sentir saudades. Precisam do desapego para se apegar mais. Eu pelo menos preciso. Acho que meu casamento só daria certo se a casa tivesse um canto meu onde ficasse por algum tempo sozinho. Preciso fazer minhas coisas, sejam lá o que forem. Meu tempo e meu espaço. Egoísta? Talvez. Mas acredito que todo mundo precisa de um pouco disso. Precisamos deixar as pessoas irem, nossos amores devem ser soltos. Um dia podem ir embora. Ou não. A melhor maneira de prender alguém é deixar a porta aberta. Acontece que existem muitas “Felícias” na vida que apertam o bichinho até esbugalhar os olhos!

Pensar no desapego como algum amor que passou é um engano. Esse alivio é de não ter mais apego algum, de não sentir mais nada, de sentir que passou. O desapego é cuidado, é regar a plantinha, é cultivar um sentimento que pode sufocar.
Pós-carnaval, pós- viagem de verão fica o sentimento de quero mais, de querermos que aquilo dure pra sempre. Nos apegamos fácil a uma paisagem linda, uma casa/ hotel mas é tudo um sonho. Logo voltaremos pra nossas vidas e apegar-se a esse sonho só vai nos trazer sofrimento.

Como gato: o bicho é solto. Quanto mais solto deixamos mais ele vai enroscar em nossas pernas.
O desapego é querer estar juntos, é amar, é paixão e saudade, mas sem deixar que nossas necessidades egoistas ofusquem o verdadeiro sentido da coisa.
Talvez o amor do carnaval dure, talvez o que teorizo vire apenas balela. Mas hoje acredito no desapego como algo que prende.
E viva o desapego!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Consolação

Uma senhora espatifou no chão. Atravessando a consolação, tropeçou no vento se enroscou no ar e esticou-se no meio da faixa de pedestres.
Apreensão e suspense pairaram no instante infinito de alguns minutos.
Parei a bike em frente aos carros parados no sinal vermelho protegendo o corpo franzino da senhora, deu pra ver os olhares atentos dos motoristas. Pés descalços e sujos, meio inchados e machucados se aproximaram. Meu olhar estava no chão junto com a senhora e suas sacolinhas do “Ladrão de Açúcar” espalhadas no asfalto quente. Os pés eram de um mendigo que prontamente saiu de seu estado de inércia urbana para socorrer a pobre.
Um carrinho, cheio de bugigangas e quinquilharias estacionado ali do lado, era outro mendigo. Supostamente a senhora havia tropeçado nesse carrinho. O rapaz dono do carrinho segurava em um dos braços da senhora ao mesmo tempo em que não soltava o carrinho. Devia ser de muito valor para ele. Eu observando só vi lixo, mas para ele havia um valor inestimável com certeza.
Algum bancário, ou qualquer outro tipo executivo que perambula pela Av.Paulista segurou a senhora por trás dando mais firmeza para que ela se levantasse.
O sinal abriu. Não me movi e não deixei os carros andarem. Ouvi uma buzina lá de trás, alguém que não viu o que aconteceu e como um rato de laboratório ficou condicionado a ver o verde e acelerar, se não der pra acelerar buzina. Eu só tinha olhos para a senhora que estava passando por um crivo de experts em acidentes domésticos: 1 doméstica de uniforme, 1 bancário, 2 mendigos e 1 ciclista. Ninguém de branco, mas todos passando os olhos por todo corpinho da senhora em busca de ralados, cortes e afins. Tudo em ordem. As buzinas aumentaram quando o sinal ficou amarelo.
O mendigo descalço de pés inchados devolveu as sacolinhas para a senhora e continuou com fome. O mendigo do carrinho pediu desculpas por qualquer coisa e seguiu o rumo. O bancário acompanhou a senhora até a calçada. A doméstica saiu rindo e balançando a cabeça. Eu afivelei o capacete novamente e continuei a pedalada e o tempo voltou ao seu fluxo normal. A senhora? Ela sentiu o calor humano da megalópole são-paulina muitas vezes escondido entre concreto, carros, motos, estresse, correrias e preocupações. Ainda há esperança.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Inexplicável

Existe uma teoria que diz que as coisas só existem em nossas cabeças. Que uma cadeira só é uma cadeira porque pensamos e associamos o nome à coisa. Tem a ver com o tal “Penso logo existo” de Descartes. E nessa idéia tudo é necessário ter um nome. Se não a gente não entende. Como uma coisa não tem nome? Tudo tem um nome.
Essa necessidade é inevitavelmente transferida para outras áreas do corpo onde o cérebro não deveria atuar dessa forma racional. Principalmente se tratando de coração.

Quantas vezes ficamos com pessoas onde sentimos apenas tesão ou simples atração física? E o quanto isso acaba sendo banal? Superficial? O que se escuta muito é que hoje ninguém quer namorar, que não tem um que preste, e mais um monte de outras coisas que justificam ficarmos solteiros. Quem namora vive batendo cabeça e sempre existe uma ameaça do passado ou do presente ou do futuro. Ninguém fica tranqüilo, e cuida do romance como quem cuida de um carro parado na rua escura prestes a ser roubado.

E quando alguma coisa acontece? Quando alguma coisa foge do normal? Quando conhecemos alguém especial ou que realmente meche conosco de maneira inexplicável. Atenção para a palavra INEXPLICÁVEL. Quando nos sentimos bem com alguém, livres para falar horas a fio sobre assuntos diversos e que nem sabíamos que sabíamos?!! Quando essas coisas acontecem a primeira coisa que incomoda é o cérebro querendo descobrir o que é aquilo. Ele precisa saber. Nome às coisas; é assim que funciona. E ai logo vem as perguntas: É namoro? Amizade? Ficante? Amante? Peguete? E mais: Se agente ficar ficando a gente vai namorar? Casar? Viver pra sempre? O cérebro precisa entender, mas o coração fala mais alto nessas horas.
Talvez a melhor maneira de acalmar a cabeça é fazê-la pensar em deixar o coração feliz e tranqüilo. E quando ela descobre que o coração esta cheio de sentimentos bons ela se acalma: Ta bom coração, ta todo felizinho aí então não me esquenta!

O inexplicável existe e é bom. É necessário. É o tempo da coisa virar algo normal e ganhar um nome. Nem tudo é rotulável. O coração fica confortável nesse mar de sentimentos se o cérebro pára de querer uma explicação. Não tem como desligar o cérebro, mas dá pra dar uma enganada! Precisamos estar mais atentos aos sentimentos inexplicáveis. Só assim a coisa vira “príncipe encantado”, “namorada perfeita”, “namoro sério”, “casamento” ou qualquer outro rótulo que lhe agrade.
Acho que consigo separar o racional e emocional. Não que estejam totalmente separados, não estão. Mas deixo o racional para estudar, trabalhar, realizar tarefas. E o emocional deixo que o coração me guie. Parece simples, né? Tente para ver o que acontece.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Absorvente

Absorvo meu calor porque solto não aquece, não ilumina nem acende, mas por dentro queima e fede a orgulho queimado, a ego apagado, cinzeiro abarrotado.
Absorvo toda chance desperdiçada, cada falta mal cobrada, cada gol perdido, mas continuo vestindo a camisa de um time esquecido.
Absorvo todo caso mal resolvido, todo beijo não dado, todo encontro furado, mas ainda quero dormir do seu lado. Agarradinho, de conchinha, como se fossemos namorados.
Absorvo tudo até explodir em fagulhas incandescentes, mas sem saber ao certo se sou psiquiatra ou verdadeiro amante.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

100% às escuras.

Antonio tirou a carteirinha da Faculdade de estatística na boca do caixa e exigiu seus 50% de desconto. Se todos pagassem meia entrada talvez o ingresso fosse os mesmos 50% mais caro, mas 86% dos proprietários de cinema concordam com a lei da meia entrada pois rende 33% mais na venda de pipoca e guloseimas superfaturadas.
Quantas pessoas, na faixa dos 25 aos 40 vão ao cinema sozinhas? – Pensou- Uns 10% no máximo.
Ele faria parte dessa estatística se comprovada. Depois que se mudou pra perto toda semana vai ao cinema. Principalmente de Quarta feira, que é mais barato. Uns 96% das pessoas que vão ao cinema as quartas, devem ganhar pouco como ele, mas gostam de cinema. Fazendo uma conta rápida chegou à conclusão de que nessa quarta-feira, somando o dele e da Alice, considerando a margem de erro, pagou um ingresso e meio. Até agora nada dela. 56% das meninas que conheceu se atrasaram.

89% das pessoas que não se conhecem muito bem e resolvem se encontrar no cinema, realmente assistem ao filme mesmo que seja chato, para terem o que conversar após o cinema. Antonio e Alice assim fizeram. Quase como estranhos se viram mesmo quando a luz acendeu. Ele ficou 97% encantado com ela e Alice, 99% encantada com o filme.

Foram num barzinho e depois de quase 2% de álcool no sangue, 2 horas de conversa e algumas cantadas ridículas o silencio se fez. Alice olhou para o relógio e acendeu um cigarro. Antonio, querendo ser simpático e atencioso disse que o uso de cigarro aumenta em 75% as causas de doenças como o câncer. Foi a gota:

_Olha Antonio, eu sou 100% sincera e não estou agüentando mais. Estou me sentindo no escritório do Ibope. Sou jornalista, mas passo longe da coluna de economia. 90 % da nossa conversa teve um “por cento” no meio. Estava com 50% de duvida se viria ou não e agora tenho 100% de vontade de ir. Você, de zero a dez, no quesito beleza, leva uns 7. Não é de se jogar fora, mas o órgão que mais exercito é o cérebro. E o meu não é nem um pouco exato.

Alice pagou 50% da conta e foi embora. Antonio ficou 100% sozinho e caiu nas estatísticas: 94% dos encontros às escuras fracassam.