segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Emails Enviados

Sem querer acabei participando de mais uma história digna de trama novelística ou cinematográfica. Teve romance, intriga, traição, suspense, ação... Tudo que um bom enredo pode ter. Só não teve perseguição de carro nem explosão e nem tiro, mas prende a atenção da platéia e por isso decidi contá-la.

Não sei se o roteiro é bom, pra mim foi um tanto óbvio, esperei a surpresa e ela não veio. Decifrei a trama logo de cara, mas se você está no pique de uma “Sessão da Tarde” ao melhor estilo Wood Allen, ajeite-se na poltrona e estoure algumas pipocas.
Trata-se de uma história verídica e para preservar as pessoas envolvidas, os nomes são fictícios, João e Maria.

Sou muito amigo da Maria e um belo dia ela me contou que estava saindo com João. Como qualquer amigo que se preze quis saber mais sobre o rapaz.
João era um gordinho que resolveu perder todas suas formas arredondadas e adquirir músculos, ficar esbelto, charmoso e visto, principalmente visto, por todas as meninas. Isso não foi a Maria que me contou, já fui gordo, já perdi quilos e vi a diferença. Já quis ser visto e mostrar, para amigos pegadores, a mulher linda e gostosa com quem eu estou saindo. Coisa de moleque. Coisa dos meus idos dezoito anos. Porem, coisas que se não resolvidas na época duram por muito tempo. Quiçá a vida toda.
Já pesei 140 kg e pensei em cirurgia, fui pra SPA, fiz academia, e tudo se resumi ao psicológico. Escutei de inúmeras pessoas: “Se você não se achar bonito, quem vai?”, “Você tem que se gostar”, coisas do tipo.
E eram verdades. Verdades que não enxergava. Quando tudo passou a ser visto pelo ângulo da saúde e bem estar, perdi peso e quando me dei conta, minha intimidade, meu objetivo de tornar-me saudável, começou a se transformar em atração para outras pessoas. O que me fazia bem, o que me deixava feliz, correr cada vez mais longe, pedalar cada vez mais, me sentir cada vez melhor, começou a reluzir como beleza e sedução. Olhares começaram a ser direcionados pra mim e feições de prazer tornaram-se freqüentes. Meu ego inflou e percebi como a sociedade que vivemos hoje é presa à estética corporal e tudo que sofri na adolescência foi por não me dedicar a mim mesmo.
Esse sentimento, quando descoberto e vivido, transforma-nos, nós homens, em simples garanhões. Sentimo-nos como os machos alfas! E exploramos ao Maximo nosso poder de sedução.

A Maria me contou então, que não eram muito parecidos. Que ele era um viciado em academia. Que vivia malhando e que prezava muito o corpo. Num depoimento via Orkut, cheguei até a pagina do João, onde lá havia um comentário de um amigo que me chamou a atenção: Obeso Mórbido
Até hoje não sei ao certo se li errado ou se é isso mesmo, mas na hora, li Obeso MorDido. Mordido, pra mim, é a pessoa que ficou puta com alguma coisa, quando não se conforma, fica bravo, enfim, quando surge um certo sentimento de vingança ou desforra. O mesmo sentimento do gordinho que emagrece e quer sair com todas as menininhas. O que me deixou preocupado com os sentimentos que a Maria poderia estar criando e principalmente, o que o João realmente estava querendo.
Mesmo não sendo de todo parecidos, a Maria via algumas qualidades no João, conhecia o moço de uma maneira diferente da que ele se mostrava. Uma maneira mais carinhosa, um jeito mais delicado e confortante que não mostrava em publico. Um outro João que despertou uma curiosidade maior na Maria e um sentimento mais concreto começou a crescer. Estavam bem. Saiam mais. Conversavam e trocavam mensagens o dia todo. Até o dia em que ele deu um “perdido”.
Já se passavam alguns dias que não se encontravam e num telefonema, foi decidido que não se veriam naquele fim de semana pois... ai uma desculpa qualquer soaria como uma... desculpa qualquer. O homem não sabe mentir. Fato. Falando aos sussurros deu a tal desculpa para a Maria e passado o ocorrido, Maria sentiu-se, ainda assim, culpada por desconfiar de alguma coisa. Com alguma lábia e charme, João fez a poeira baixar e continuaram juntos.

Foi quando recebi um email da Maria. Não estava nada bem. Acabara de receber um email de uma menina, a ex do João. Vou chama-la aqui de Joana. No email da Joana, em anexo, estavam várias conversas entre ela e João. Declarações de “Eu te amo” escritas em caixa alta, palavras intimas e o principal: Toda uma seqüência de email trocados combinando um encontro.
Acontece que a Joana escreveu toda a relação que tinha, ou tem, com o João, com detalhes e fatos que deixavam muito claro que o João estava usando do seu potencial sedutor para ficar com as duas. Detalhes de conversas que ele teve com a Maria no dia do perdido, onde Joana diz no email, estar junto com o dito garanhão, na hora do telefonema da Maria. Para ajudar, Joana disse ainda, ter sofrido agressões físicas e que depois disso resolveu mandar o email pra Maria com o intuito de mostrar a verdadeira cara do João.
Somado a isso, algumas amigas da Maria viram o João de mãos dadas pelas ruas da cidade com outra, mas que não puderam dar certeza absoluta. Isso gerou uma outra historia entre as amigas, onde o principal conflito era o “disse que disse” o “conta não conta”.

É ai que eu entro. No meio dessa confusão, Maria me chamou pra conversar e me contou os detalhes sórdidos da trama. Precisávamos de um desfecho.
Maria ligou pro João e contou do email da Joana. Ele disse que a Joana é louca que já havia feito isso antes, que sentia um carinho muito grande pela Maria, que não poderiam terminar por conta dela e tal. O velho papo pensei eu. O mesmo papo que o hoem solta quando percebe que está perdendo a “foda permanente”. E com toda essa trama no ar, tentei achar uma solução. Ajudar de alguma maneira. Tentei estar errado, tentei achar que tudo era um mal entendido e que se a Maria realmente gostasse do João, precisávamos esclarecer essa história. E para isso, como os email onde supostamente o João havia se declarado e marcado encontros foram redigidos no computador da empresa, a única maneira de descobrirmos a verdade seria por lá. Sugeri para Maria que fossem juntos até a empresa e lá colocarem a historia a limpo. A arma secreta, porem, foi os menu “emails enviados”. Nunca ninguém lembra de apagá-los, ou nem lembram que eles existem. E disse para Maria olhar lá. Se existiram email para a Joana eles estariam ali. O João não apagaria esses email.

Enquanto conversávamos, João ligou. Combinaram de se encontrar. Deixei Maria numa esquina, Passei o João na outra. Lá foi Maria.
Contou-me depois, que ao chegar à empresa pediu para que ligasse o computador e entrasse no email. Conferiu a caixa de entrada e pediu para entrar nos emails enviados. Na mosca! A prova do crime estava ali estampada e nenhuma palavra dele teria mais valia. Num ataque de raiva Maria derrubou as coisas dele no chão, desceu o verbo e deve ter dado-lhe alguns tapas. O bombadinho perdeu todo seu glamour. Não esboçou reação. Maria deu as costas e foi embora. Diz que esqueceu a chave do carro teve que voltar ainda para buscar, mas depois foi mesmo! Sumiu. Chorou as pitangas com a mãe e no dia seguinte me contou o desfecho.
Quando vejo uma criança descobrindo alguma coisa ou um adolescente passando por alguma fase complicada da vida, sinto-me sábio o suficiente para entender aquele momento. Saber que já passei por aquilo e que é natural. Mesmo que errado. Não costumo dar conselhos, digo o que penso. Participar dessa historia foi como ver a tal criança, o adolescente. Foi como se já soubesse de tudo mesmo antes de conhecer o João. Criei meu preconceito com base no que vivi e senti. Não criei um estereótipo. Foram os fatos e atitudes que delataram o moço. Não colocaria uma foto minha em pose sem camisa mostrando a cueca num perfil do Orkut. Não usaria roupas apertadas para mostrar meus músculos.

(parênteses) Numa foto onde vi os 2 abraçados, ele vestia uma camiseta curta e apertada. Perguntei pra Maria e ela me disse que a desculpa dele foi que a camiseta havia encolhido. Minha pergunta: Quem veste uma camiseta antes de sair de casa, vê que encolheu, mas sai de casa mesmo assim?(fecha parênteses)

Nem deixaria de ver a namorada num sábado alegando estar cansado. Enfim, uma série de atitudes que somadas montam o perfil do rapaz.

Ninguém sabe que fim o João teve.
Maria esta de malas prontas pra Itália.

E eu?

Bom, eu aprendi mais uma. E acho que estou certo nas minhas atitudes. Aprendi a muito custo, o valor da verdade e da lealdade. Palavras muito mais importantes que fidelidade.
Nada disso teria sido sofrido se desde o inicio ficasse claro as verdadeiras intenções e sentimentos. O que impediu João dizer que existiam sentimentos, mas que o que ele queria mesmo era sexo? E se Maria só quisesse isso também? Ou se um dia Maria indagou seus sentimentos, porque João não aproveitou a deixa?
Pelo contrário, só dizia que a Maria era linda, que a adorava, que sentia algo a mais...
Só pra sexo. Nada totalmente sincero. Muito triste isso.
O Homem aprendeu que a mulher precisa de sentimento para ir à cama. E aprendeu isso há séculos! A Mulher já não é mais balzaquiana aos 30 anos. Já faz tempo! A relação da mulher com o homem já mudou mas do homem com a mulher não.
Sinto-me privilegiado de não ser mais assim. De saber que rompi com o machismo que me pesava o saco! Sinto-me homem e definitivamente:
“Meus 20 anos de boy, that’s over baby!”

Um comentário:

  1. QUE HISTORIA ANDRE... rs...
    Já tive um João na minha vida viu...(infelizmente ou não...) mas as atitudes não mudam, a foto mostrando os musculos no perfil do orkut, o fato de deixar de ver a namorada num sábado alegando estar cansado ou pq estava na academia...
    Já passei por isso, é engraçado como está na cara o "tipo" de pessoa que é ne... mas ficamos apaixonadas, carentes, cegas, sei lá...
    No fundo esses "garanhões" são uns frustados e precisam estar provando para si mesmo, sempre, que são capazes de conquistar toda e qualquer mulher...
    E nós ainda nos deixamos enganar por eles, mas serviu de lição... pelo menos pra mim sim e espero que para a Maria também...

    Abraço!

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