quarta-feira, 28 de julho de 2010

Educação

Pra mim, o maior de todos os problemas do Brasil é a educação. A ignorância é tanta que a coroamos com o chamado “jeitinho brasileiro” de ser. Cometemos infrações diariamente e sentimos um prazer egoísta com isso.
Estava vindo para São Paulo via Bandeirantes, considerada a melhor rodovia do país, numa noite movimentada de segunda-feira. O limite de velocidade nessa rodovia é de 120 km/h. Para termos uma habilitação é preciso passar por exames teóricos e práticos e todo motorista, sem exceção, sabe que acima de 120 km/h é infração grave. Para fiscalizar foram instalados radares que ficam escondidos atrás de viadutos e placas.
Tudo daria certo e todos teriam mais chance de chegar vivos ao destino se essas regras fossem respeitadas. Questão de educação. Sabendo onde ficam os pontos de radares muitos motoristas aproveitam para pisar no acelerador. É regra, aprendemos que a pista da esquerda é para veículos mais rápidos. Mas isso não nos dá o direito de ficarmos colados na traseira de outro carro, dando farol alto, e obrigando-o a sair de nossa frente como se ali fosse uma pista de corrida ou que fosse de exclusividade nossa. O incrível que essa é a regra. Acostumamos-nos a sair da frente quando mesmo acima da velocidade permitida, quando outro motorista nos cega com um farol alto e gruda atrás de nós, devemos tentar manter a calma e mudar de pista. No meu caso inclusive, não se tratava de uma pista vazia, pelo contrário, estava cheia e lenta devido a obras. Quando se trata de uma viatura, usam-se faróis diferentes, giroflex, piscas, e quando é uma emergência particular também ligamos as luzes piscantes, buzinamos. Fora esses casos, nenhuma pressa justifica nossa vaidade de querermos ultrapassar todo mundo, acelerar nosso possante e que o mundo saia da nossa frente. Não é assim, não aprendemos isso na auto-escola, mas é assim que funciona. Falta de educação.
Pra começar, a educação de casa. Essa coisa irracional que vivemos hoje começou lá trás. O exemplo que tivemos. Ou a falta dele. Birra de criança mimada se reflete em comportamentos infantis e egoístas no adulto. O “não” é inaceitável e o “meu” idolatrado. Já vi muita criança mandando a mãe calar a boca ( literalmente) e para minha surpresa , não ser nem repreendida por isso. Ora, se perdemos o respeito até com a própria mãe não vai ser uma plaquinha de transito que vai nos limitar. A educação informal é de responsabilidade da escola agora. Pagamos caro para que nossos filhos tenham uma boa educação e achamos um absurdo eles não se comportarem direito à mesa! Papéis totalmente invertidos.
Isso é só um pequeno exemplo de como nos acostumamos com ignorância. Como se tornou comum não respeitar, não só as leis, mas o próximo. O senso de civilidade perdeu-se em algum lugar. É preciso retomar as rédeas da educação dos nossos filhos, ter maior responsabilidade para procriar; Educarmo-nos para poder educar, assumir a culpa de termos um país corrupto e que não se preocupa de fato com o bem estar de uma nação. Precisamos ser mais ativos na sociedade e amá-la, fazer parte.
Já reverenciei o “jeitinho Brasileiro”. Hoje quero ter orgulho de dizer que sou Brasileiro, mas não acredito que vá dizer isso com plena satisfação nessa vida.

sábado, 24 de julho de 2010

Ciúmes virtual

Conheço a história de um casal recém casado que tiveram uma briga feia logo no começo. Diz que a noiva estava arrumando o armário novinho do quarto novinho da casa novíssima. Esperaram a casa ficar pronta antes de marcar a data de casamento.
Grande parte da mobília foi dada pelos padrinhos e parentes mais próximos. Tudo cheirava embalagem nova, tinta fresca e a rotina ainda não estava totalmente formada.
Ela foi colocar o edredom king size no maleiro e achou uma velha caixa de sapatos fechada com fita crepe quase sem cola. Não era dela e só poderia ser do marido. Pensou em não abrir, mas o que seria aquilo no maleiro? Porque teria guardado ali? A fita não lacrava muito e a moça achou que não teria problema verificar o conteúdo da caixa. Antes estivesse bem lacrada. Eram cartas, fotos e recadinhos de antigas namoradas. As fotos amareladas com declarações no verso doeram mais.
Tiveram uma discussão e o argumento usado pelo noivo foi simples: Mesmo queimando tudo aquilo as lembranças sempre existiriam. Dentro da caixa guardava lembranças e não os sentimentos que um dia teve por aquelas pessoas. Depois de um tempo ela entendeu.
Tem um caso que é meio corriqueiro. A mulher encontrar o cara com umas playboys babando em mulheres inatingíveis. Não que a mulher pense que seu homem vá correr atrás delas e/ou ter alguma coisa com elas, mas ela se compara. E fica insegura pensando não ter todos os atributos necessários para agradá-lo.
Nos tempos de hoje temos o MSN causando discórdia! Mas diferentes das antigas revistas ou de uma caixa de lembranças, pelo MSN a mulher responde! A insegurança é muito maior e dessa vez com razão. Nenhum homem imagina sua mulher conversando com um monte de carinhas, mas a maioria deles tem sua listinha de paquerinhas virtuais, que não dá em nada na maioria das vezes, mas estão presentes na imaginação deles e isso assombra qualquer boa relação. Sabemos disso. O Homem gosta da conquista e virtualmente ele se expõem menos. Ou pensa que assim o faz! Discreto é uma coisa difícil do homem ser!
Para evitar maiores problemas, fica a dica: preste atenção na mulher que está do seu lado na vida real para não acabar na mão. Literalmente!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Biocombústivel

Depois de 43 anos de estudo e dedicação, a formula finalmente ficou pronta. Reciclando o próprio lixo e acrescentando alguns produtos de fácil aquisição, Geraldo Azevedo, técnico supervisor do Instituto Tecnológico de Bicombustíveis, desenvolveu o álcool caseiro.
O teste foi feito com um motor simples montado numa bancada. Azevedo entrou na sala de testes com um vidro cheio de um liquido translúcido, mas não totalmente transparente como o álcool. Despejou o liquido no pequeno tanque do motor, bombeou um pouco uma manivela e deu partida. Funcionou perfeitamente.
Trata-se de um composto extraído do lixo decantado e que não agride, em tese, o meio ambiente.

Quando li a noticia não acreditei. Acreditei menos ainda quando ao ligar a TV logo de manhã, a Ana Márcia estava com o tal Azevedo pronto para passar a receita do álcool caseiro.
O programa tem um papagaio que comenta tudo e dizia que o “álcool caseiro era igualzinho que a dona de casa encontra no posto”.
Todos vestiam jaleco branco, luvas e óculos protetores. Azevedo começa explicando que a pessoa deve separar o lixo orgânico do reciclável e todo esse lixo orgânico vai pra dentro de um tanque, que em casa pode ser feito com uma caixa d’água. Depois de cheio, esse tanque fica tampado por três meses. É feito um amassamento daquela pasta fedorenta como se fosse uva virando vinho. A Ana Márcia vestiu umas botas que iam até a cintura e se meteu naquele tanque de lixo junto com o cientista maluco, e começou a sapatear. Lamentável, diga-se de passagem. Por uma torneira escorria o resultado.

Depois do intervalo todos estavam no estúdio com um vidro cheio daquele liquido estranho. Colocaram numa máquina destiladora feita com escorredor de macarrão e filtro de papel. Depois colocaram alguns produtos que não me lembro bem, diziam “temperar” a mistura. Algo como hidróxido de sódio, dióxido de hidrogênio, eu estava muito atordoado com tudo aquilo. Sei que depois, a coisa toda foi para uma centrifuga dessas de secar salada. O Azevedo aparentava nervosismo e dizia que “esse processo é o segredo, são varias voltas rápidas por trinta minutos”. A Ana do lado dele explicou que já haviam feito antes, pra ver se dava certo, vários litros que estavam bem ali do lado.
_Então Geraldo, só pra dona de casa entender o processo da centrifuga – E lá foi Ana botar a mão onde não devia- A gente coloca o liquido temperado nos copinhos, olhas só, mostra aqui câmera, ele colocou esses copos de requeijão um do ladinho do outro aqui dentro, ó. Aí a gente enche os copinhos... Ele calculou gente, um litro por vez. Tampa assim, cuidado viu gente. Começa de vagarinho e gira, gira, gira, gira e solta. É assim Azevedo?
_Isso Ana, quando você solta a centrifuga ainda fica girando você vê? Antes de ela parar completamente você volta a girar com força.
_Vamos lá então: gira, gira, gira...
Explodiu!
Imediatamente entrou o símbolo da emissora e por 3 horas nada aconteceu.
Foi a maior audiência registrada no planeta. Praticamente todo televisor ligado no Brasil estava com o tal símbolo. Todos esperavam saber o que havia acontecido. As outras emissoras mandaram as equipes de reportagens. Não se falava de outra coisa. Tive que ir trabalhar e acabei esquecendo a coisa toda, afinal era só um programa de culinária.
Hoje, quando liguei a TV estava passando desenho.
_Já era a Ana- pensei- pela primeira vez o programa de culinária fritou a apresentadora!
“Bora”, trabalhar.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Amizade Colorida

_Amizade colorida? Isso eu falava no tempo de escola. No tempo que ainda era primário, ginásio e Colegial!
_Mas ela é minha amiga, só que a gente fica.
_Então são ficantes, oras!
_Não. Ficante é quando fica com uma mina na balada e fica ficando. A Manu eu conheço desde uns 2 anos de idade. A gente ficou quando eu briguei com a Gabi. Era consolo de amiga. A gente se beijou de língua, mas era amizade. Difícil de entender. Amizade Colorida.
_Mas toda amizade é colorida. A vida é muito monocromática sem amizade. Não existe amizade em cinza. Cada amigo pode ter uma cor especifica, mas quando unidas, misturadas, duas pessoas de cores diferentes tornam a vida colorida. Hoje, é pejorativo dizer que uma amizade é colorida porque se leva tudo “por trás”, mas amizade é multicolore!
_Salamé Míngüe! Eu não vou me casar, não vou ter filhos com a Manu.
_Será? Você já comeu que eu sei.
_Nada a ver! Não amo a Manu.
_Mas é pra ela que você corre. Já parou pra pensar como seria sua vida sem ela e se conseguiria continuar daqui pra frente sem ela?
_Ficantes nós não somos também. A gente se vê praticamente umas 3 vezes por ano. Quando a gente se vê acaba ficando, mas ela namora... eu também to enrolado aqui com a Karine, você sabe.
_Então é sacanagem pura!
_Não é não, porra! Você é muito otário! A gente é amigo. De verdade. Falo com ela todo dia. Sabemos tudo um do outro. Só que ela não mora aqui, fazer o que? Se morasse seria como você, tipo um brother.
_Éca, ta afim de me dar uns beijos também agora?
_Puta que pariu, véio, pára de zuar. É sério pô.
_Sério é você negar que o amor da sua vida é a Manu. Você fica de boa porque fala com ela todo dia, como você mesmo falou. Fica lá no MSN pagando de amiguinho querendo mesmo é catar a mina. Se liga bro! Quantas minas você já perdeu porque você ficava mais com a Manu na net que com as minas na cama? Ta perdendo tempo.
_Catso meu! Então o que ponho em “relacionamento”?
_Sei lá. Deixa sem nada. Porque você precisa dizer pra todo mundo do Facebook que você tem um relacionamento?
_Pra Manu não achar que estou mal e...
_Manu, Manu, Manu, pára meu! Desencana. Ou encana de vez. Ficar nessa onda aí eu não tenho saco não. Agora bóra pra balada que as minas estão esperando.
_Vamo ae.

Logout.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Olho no dedo.

Quando abri os olhos de manhã senti um choque no interior do cérebro. Provavelmente foi a conexão que tive que fazer para entender que agora meu olho esquerdo estava na ponta do dedo indicador da mão esquerda. Foi difícil enxergar duas imagens ao mesmo tempo. Senti-me assistindo “24 Horas” e o mundo virou multi-tela! De um lado eu via o lustre sem a tampa de vidro no teto do quarto, do outro a ponta do meu dedão do pé descoberto.
Ergui a mão e o movimento me deu náusea. Fechei o olho direito. A visão era meio tremula. Fechei o olho do dedo e abri meu olho direito. Estava tremendo. Fechei todos os olhos até que tudo ficasse escuro. Seria um sonho? Abri o olho esquerdo e vi meu queixo. Estava com as mãos sobre o peito sentindo meu coração acelerado. Respirei fundo e apontei meu dedo. Interessante. Parece um filme, câmera subjetiva. Como se fosse steadicam.
Posicionei o braço de maneira confortável e lentamente fui girando o pulso até olhar pra meu rosto. Vi meus olhos fechados. Abri o direito lentamente e o esquerdo movia-se exatamente do mesmo jeito. Quando abri meu olho direito o esquerdo também se abriu. Porem a imagem que meu cérebro codificava era do olho na ponta do meu indicador. Meu olho esquerdo da face era apenas uma cópia do direito.
Aproximei meu dedo do olho esquerdo. Vi meu olho. Aproximei meu dedo do olho direito. Vi minha alma!
Era como colocar dois espelhos frente a frente e ver a imagem multiplicar-se infinitamente, mas o resultado dessa multiplicação era eu mesmo. Eu e as minhas infinitas possibilidades. Fiquei encantado e me perguntei se Narciso sentia o mesmo ao contemplar-se.
Abri a boca. Coloquei o dedo dentro, mas estava escuro. Quando acendi a luz do banheiro e me olhei no espelho me senti vendo uma foto dessas de Orkut. Onde a pessoa segura o celular ou a câmera e tira uma foto de si. Só que era minha mão! Dei risada, era muito divertido.
Estava com os dentes sujos e a garganta querendo inflamar. Era ruim quando sem querer encostava meu olho em algum lugar molhado. Minha respiração atrapalhava um pouco também. Mas a sensação da saliva no meu olho do dedo era tão enervante quanto alguém cuspindo ou pingando um colírio. Muito chato.
Tomar banho também não foi nada fácil. Entrou espuma e ardeu. Era inevitável usar as mãos do mesmo jeito que sempre usei. Esquecia que estava com um olho no dedo. Quando peguei a toalha, raspei meu olho e ardeu muito.
Dirigir foi quase catastrófico! Não podia abrir o olho do dedo se não perdia o controle do carro. Foi bom quando parou o trânsito. Colocando a mão para fora do carro consegui ver bem mais à frente e desviar de alguns inconvenientes.
Eu tentei trabalhar, mas como digitar? Nem de olho fechado. Tentei segurar o dedo com um elástico, estava ficando ridículo. Inventei um mal estar e liguei para a Solange. Ela só trabalha depois das 18 horas nas segundas.
Quando cheguei a casa dela contei toda historia. Ela deu um grito quando abri meu olho do dedo e olhei para ela. Depois riu. Disse que era bonitinho. Imaginei milhões de coisas que poderia fazer com ela e meu dedo! Tantos novos lugares para explorar. Ela beijou meu olho segurando minha mão. Sugeriu que abrisse um vinho enquanto tirava o almoço do forno.
Quando fui abrir o armário a chavinha caiu e foi parar debaixo do sofá. Foi fácil achá-la usando meu olho do dedo. Peguei o vinho com a mão direita. O lacre de metal atrapalhou e quando fui usar o saca-rolha acabei furando meu olho do dedo. Embrulhei o dedo todo num guardanapo e corri pra cá.
Fizeram um curativo decente e pediram para aguardar.
Até pouco tempo atrás estava com uma vista no escuro. Agora estou enxergando normalmente.
_O que acha doutor?- perguntei enquanto ele abria o curativo.
_É uma piada, senhor?
_Não, não é. Deveria consultar um Oftalmo?
_Se tiver um olho na ponta do seu dedo você deveria consultar uma emissora de televisão. Como não é o caso, acho que o senhor deveria consultar um psiquiatra.- Disse cortando o ultimo esparadrapo.
Fiz cara de susto quando vi meu dedo normal novamente.
_Teremos que dar uns pontinhos aqui. – Disse o doutor – O senhor é ator? Quase acreditei na sua estória.
_Sou escritor - Respondi mentindo minha real profissão - _ Minha visão escorre pelas pontas dos meus dedos!
“Piadinha infame”- pensei- “Baseada em fatos reais”!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Mulher Jibóia

Nove meses e meio e nada. Estava com a barriga explodindo e nem sinal da criança.
Samuel indagou-se do possível problema, mas Bárbara nunca apresentou nenhum. Na verdade nunca esteve melhor. Inclusive na intimidade.
Quando chegaram aos dez meses de gestação conversaram e decidiram deixar a vontade de Deus acontecer. A barriga crescia naturalmente e o máximo que poderia acontecer era a criança nascer criada! Eles gargalhavam com a piada deitados nus, felizes.
Samuel surpreendeu-se descobrindo que sua atração por Bárbara crescia tanto quanto.
Bárbara preenchia a cama toda quando chegaram aos quinze meses. Samuel já não podia dar prazer como sempre deu. Era incrível como meio braço cabia dentro dela e ainda assim a cabeça do bebê parecia distante.
Resolveram desmontar a cama e o armário e forrar o chão com colchões. Bárbara ocupava praticamente meio quarto quando chegaram ao vigésimo terceiro mês. Samuel conseguia introduzir uma perna até pouco acima do joelho em Bárbara. Era preciso colocar um travesseiro na boca dela quando se amavam, pois o prazer era tanto que os gritos eram inevitáveis. Ela sempre pediu e sempre comandou. Dizia que sentia o quanto Samuel deveria entrar.
No dia em que a gestação completou dois anos, Bárbara pediu que entrasse com a cabeça. Um desejo que Samuel escondeu e que de escutar, ejaculou. Tomou banho raspou os pelos do corpo, fez a barba e raspou o cabelo. Escalou a barriga macia de Bárbara, sentiu o teto do quarto frio quando o tocou com as costas antes de descer e atravessar as enormes mamas e finalmente encontrar o rosto de sua amada. Deu-lhe um beijo demorado e percorreu todo o caminho de volta.
Antes dele entrar, Bárbara disse amar Samuel.
Mal encostou a cabeça e foi sugado. Mergulhou em Bárbara e nunca mais saiu.
Sabe-se que depois de dois anos Bárbara voltou ao seu tamanho natural. Tentou voltar para a velha rotina, mas teve que mudar-se. Na pequena vila onde morava ficou conhecida como Mulher Jibóia.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Check-in

Tinha um armado, o carro foi cercado, acertaram o Luis e pegaram o Antonio.

Fiquei com duas sacolas.

_Primeira classe, só ída.
_Forma de pagamento, Senhro?
_Dinheiro. Ele está um pouco sujo, tudo bem?

Ficantes

Segundo um artigo publicado pelo psicólogo britânico Pam Spurr no tablóide Daily Mail, o namoro tem prazo de validade. Para ele, casar-se muito cedo, levado pela paixão, pode ser perigoso. Entretanto, o namoro não pode durar mais de três anos, pois após esse prazo corre o risco de acabar antes do matrimônio.

Pois bem, sabendo disso, pergunto: E os ficantes? Também tem prazo até tornarem-se namorados?

É chegado um momento onde o a faísca inicial ou explode a bomba ou apaga.
Depois de muitas baladas, festas, esquentas, saideiras e afins, finalmente rolou aquela química, aquela atração, aquela troca de olhares e o beijo. Uma noite inesquecível e que culminou em sexo e prazer mutuo.
Fim de semana seguinte um novo reencontro. A curiosidade é o que move os dois corpos que dias atrás estiveram juntos e precisam saber se ainda se querem.
Rola gostoso de novo. E aí o racional já começa a piscar o alerta.
É de comum acordo ser ficantes. Continuar essa coisa boa que aconteceu e que não acontece toda hora. Com calma, conhecendo um ao outro e curtindo o momento.
E o que significa ser ficante de fato?
Duas pessoas que se beijam, transam, dormem juntas, mas que são amigos. Apesar de existir uma intimidade, ainda assim, não existe qualquer garantia que aquilo se transforme numa paixão ou num namoro.
Aí, tentamos segurar os sentimentos acreditando que sem compromisso tudo será mais fácil. Não devemos satisfação um ao outro, não temos nada. E nesse ponto nada mesmo: A amizade fica abalada com o suposto romance e vice versa. Ninguém sabe nada no fim das contas!
Passados 3 meses o que acontece?
Cansa! A gente se cansa daquele famoso “chove, mas não molha” e fica se perguntando se “desse mato sai coelho”! Afinal, friamente falando, depois de certa idade não estamos mais dispostos à casinhos. E se de casinhos estamos afim, que venha o próximo.
Se a teoria fosse igual a pratica seria lindo. Não é.
Acontece que o coração começa bater diferente e uma serie de questionamentos surgem para colocar em xeque o sentimento. Como já vivemos outros relacionamentos não queremos repetir os erros. A pretensão é de acertar, não se ferir muito e tentar não magoar ninguém. Pretensão.
Mas se envolvidos estamos nada é muito sabido. Não há teoria que desvende o que acontece com duas pessoas que se envolvem. Cheiros, tato, voz, pulsação, química? Acontece. Sempre foi assim. A gente fica esperando acontecer e quando acontece insistimos em não querer. Eterna insatisfação
Enquanto não escolhermos, as possibilidades são infinitas. Como um novo site, um novo canal, uma nova musica. Dizem que o homem toma as decisões mais friamente e a Mulher mais emocionalmente. O que define continuar ficantes ou namorar? Será uma luta onde a paz se encontra com o racional de um e o emocional do outro? O mix das duas coisas? Uma simbiose com um período indeterminado para terminar ou a transformação completa em um único ser? E tantas outras perguntas cabeludas que só Deus sabe!
Deixar o coração falar é difícil. Mas só ele tem as respostas para todas estas questões.
Resta saber se você esta disposto à isso!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Da saga Sr.Sincero

Dei-me conta que estava pensando numa pessoa que chamaremos aqui de Maria.
Dez anos depois nos reencontramos. Um misto de alegria e lembranças agitadas.
Minha lembrança mais recente era Maria enfurecida me mandando embora aos berros depois de uma balada que ela foi embora e eu e o João, namorado dela na época e meu mega parceiro de republica, de sala, de boteco, mega brother resolvemos ficar e tomar mais umas saideiras. Chegando na casa deles Maria estava na porta. Bate boca. Foi super engraçado e tenso. Dei risada no carro.
Depois de uma festa onde nos reencontramos e trocamos contatos, começamos a nos conhecer novamente e depois do episódio “borrachada” acabamos numa balada muito interessante. Uma noite irada, com muita risada e som legal.

Inevitavelmente essas lembranças recentes permaneceram na retina e acabaram com qualquer resquício de conflito do passado. O que me deu uma sensação boa e uma saudade momentânea do fim de semana que passou. Passei o dia tendo flashs da balada e lembrando-me da Maria e da Matilde, das risadas, das coisas ditas. As noites boas causam isso em mim. Uma nostalgia precoce!

Mas que perigo dizer isso! Não só para as duas que saíram comigo pela primeira vez, mas pra qualquer outra que você conheceu e saiu há pouco tempo. Invertendo os papéis, se a Maria me diz que passou o dia pensando em mim, o que eu iria pensar? E com qual cabeça pensaria?!

Venho gritando aos sete ventos que devemos ser sinceros com o que sentimos. Que devemos olhar para dentro e entender o que o coração diz e não negar isso. Não devemos fazer o jogo da sedução e deixar tudo às claras. E agora me ponho à prova: Como não jogar e ser sincero se o simples fato de sentir saudades pode ser visto e interpretado por N ângulos?

Que fique claro agora antes de qualquer mal entendido: Não “tenho” nada com a Maria nem saímos com a intenção de “ter” alguma coisa.
Estamos nos conhecendo e criando uma amizade. Não é assim que se faz? Ou estamos tão virtuais que esquecemos como relacionarmos?

Ponto esclarecido volto a perguntar: E se fosse a Maria que tivesse me dito que passou o dia pensando em mim?
Pensaria que realmente o passado ficou e que uma nova amizade começou bem. E que foi tão bom pra ela quanto foi pra mim. Sem grilos. O que fosse dito daí pra frente é que iria determinar se estaríamos caminhando pra uma amizade ou um romance.
Como já aconteceu.
Assim como já aconteceu de eu não pensar isso. De achar que uma paixão estava acontecendo. De pensar “ai meu Deus, fodeu”! “Olha o grude carente chegando!”
Assim como EU também já fui um grude carente! Nessa vida amorosa passamos por todos os papeis, acredite.
Então, ser ou não ser sincero?
Escolho ser:
André Diz: Maria, estive lembrando do fim de semana, passei o dia pensando em você. Pode parecer cantada barata mas é verdade.

Maria diz: mas sinto informar q vc não pode ter esperança nenhuma em relação a um xaveco
Vamos aumentar a amizade e curtir sempre.
Andre diz: Foi o que eu disse, pode parecer, mas não é xaveco não.

Aí é pagar o preço de ser sincero meu amigo(a)!

O papo com a Maria foi em tom descontraído, nada sério. Mas a resposta é a mesma que qualquer pessoa hoje em dia daria, inclusive eu, que poderia ficar quieto, mas me pareceu egoísmo não compartilhar um sentimento bom.
Difícil né?
Continuo na saga Senhor Sincero!

AH! Meninas: Foi bom pra cagaio, deu saudades e quero mais! #prontofalei !

(Todos os nomes desse post sao ficticios)

terça-feira, 13 de julho de 2010

Golpe da barriga

Estávamos conversando na cozinha sobre o fim de um namoro de uma das duas e:

_ Eu falei pra ele: Você se cuida hein! Presta atenção! Vai arrumar a primeira bundinha bonitinha e engravidar.

Eu e a outra ouvinte fizemos a mesma expressão que o ex em questão deve ter feito.

_ É verdade gente! Tem um caso conhecido até, de uma mulher super bem de vida, que tinha um relacionamento com um cara, também, muito bem de vida... Ela com uns 40 e poucos e ele já 50tão. 14 anos de relacionamento e o cara saia ha 5 com uma menininha de 16 anos e engravidou a menina. E pense, ta lá com a menininha até hoje! Menina de favela eu to dizendo. Sem preconceito, mas ele teve de se mudar por conta da vergonha.
Tem o caso da Maria e do João... que o João largou da Maria e o primeiro rabo de saia que encontrou... uma menina nada a ver... engravidou. E depois com quem ele foi chorar as pitangas? Com a Maria! Ligou pra ela pra contar! Faça me o favor! Disse que estava arrependido. Que cagou na vida... Eu disse pro meu Ex: presta atenção!

_É fato- eu disse- O homem fica solteiro e a primeira coisa que quer é uma nova mulher.- Continuei- _ Carentão.

_ E tem muita mulher piranhuda que esta bem esperta viu, André! Dá o golpe fácil. Nós mesmas somos leais e não engravidamos, porque se quiséssemos você mesmo já teria um filho de uns 2 aninhos! – Disse ela meio que me dando bronca!

_É verdade, tem toda razão- E tinha mesmo.

Fica a dica: Preste atenção rapaz!

Borrachada

Meu coração bate forte e minhas mãos estão úmidas como o dia que amanheceu chuvoso depois de uma longa estiagem. Um árduo caminho percorre aquele que naturalmente vive em sociedade.
Hoje se fala muito em bulling. Estudei num colégio particular de padres. Não me lembro de outro negro na escola. Um dia os alunos puderam levar um brinquedo para escola e uma das crianças levou o mais cobiçado. Causou alvoroço e a professora organizou uma fila para que um a um pudesse brincar. O brinquedo era jogado em dupla, mas mesmo perdendo, o dono nunca se levantava. Quando chegou minha vez, ao ver o único negro da escola disse: Você não – me empurrou e com o cotovelo quebrei uma janela. Carrego a cicatriz até hoje. No corpo e n’alma.
Cresci. Aprendi a me defender. Briguei bastante. Não levava desaforo pra casa, era o que se dizia. E eram outros tempos. Não se andava armado como num faroeste, como é hoje. Era chute e soco e muito hormônio adolescente no ar. Por conta disso, muitas vezes perdíamos a razão. Antes vitimas, depois agressores. Inversão de papéis e sensação de injustiça.
Ultimo fim de semana fui para minha cidade no interior paulista para o aniversário da minha irmã. Coincide com o aniversario da cidade e todo ano nessa data acontece a Festa do Peão.
Durante o dia teve um churrasco na casa dos meus pais e minha Irma chamou os amigos para comemorar. Já de noite, me convenceram a ir à festa do peão.
Cresci nessa cidade, muitos amigos e lembranças boas quando me lembro de festas que fui. Numa cidade de 30mil habitantes uma festa como essa é um acontecimento. Indo a pé para festa, pensei que poderia encontrar algum amigo das antigas e poderia ser no mínimo nostálgico.
25 reais para entrar. Show do Milionário e José Rico. Coragem.
Cavalos e bois pularam com os escrotos amarrados, a arena se abriu e foi tomada pela população para assistir o show da noite. Viola vai viola vem, fomos para fora da arena. Tomando a terceira latinha resolvi ir ao banheiro. Vi o símbolo do homem e a palavra “Homem” logo abaixo. Banheiros químicos. Quando fui entrar reparei que só haviam mulheres. Perguntei se era feminino, mesmo estando escrito homem elas não souberam responder. Perguntei se poderia usar o banheiro já que estava ali e elas disseram que sim.
Quando estava usando o banheiro alguém bateu forte na porta. Abotoei a calça e ao abri a porta de i de cara com o segurança da festa esbravejando que ali era banheiro de mulher.
Disse para ir com calma que ali na frente estava escrito Homem, e que se não era pra usar que me desculpassem. Escutei a frase: E se fosse sua mulher que tivesse usando o banheiro?
O que? Ta louco? Olha ali – apontei para o símbolo - _ está escrito homem.
Você vai pra fora da festa – disse o segurança já empunhando um cassetete.
Outro segurança chegou já falando que eu iria sair da festa. Começaram me empurrar e eu tentei permanecer no lugar. Com as mãos baixas para evitar qualquer confusão maior:
_ seu guarda- estava de farda, mas era apenas segurança, mas foi o que me pareceu mais respeitoso- _Não quero causar confusão nem brigar, só quero esclarecer que no banheiro esta escrito homem, se errei me desculpe, mas não vou sair da festa por causa disso, não estou querendo confusão.
Você vai sair sim – cutucando-me com o cassetete.
Um outro segurança chegou e depois de mais algumas farpas trocadas ambos começaram me deferir golpes de borrachada. Fui agarrado e posto para fora da festa.
Indignado exigi falar com um organizador da festa. Fui empurrado por um outro segurança e ao cair no chão ainda levei alguns chutes. Ao me levantar a PM compareceu e ao invés de me ajudar me mandou embora ameaçando me bater mais.
Andando de volta para casa entendi porque tanta gente morre a toa. Quantas vezes já escutei que depois de uma “treta” fulano vai pra casa pega o revolver e volta atirando em todo mundo.
Lembrei do dia que fui empurrado na escola e cortei o cotovelo e de tantas injustiças que vivi. Lembrei das brigas de adolescente e que toda vez que revidei me dei mal. E dessa vez, nada que fiz justifica a atitude tomada por aqueles que deveriam me proteger.
Fui a delegacia, ao hospital, ao advogado e estou processando a festa. Nomes e lugares foram poupados justamente por isso.
No fim de tudo a pergunta que fica é por quê? Tanta coisa errada que acontece no mundo e o dialogo que deveria ser o começo de uma melhoria esta cada vez mais distante das bocas e dos ouvidos. Por falta de pratica uma hora ou outra acabaremos nos matando.
Agora só “quero que a justiça seja feita”, usando esse jargão que tantas pessoas injustiçadas proclamam nos noticiários diariamente.